O que o Rock in Rio pode nos ensinar sobre aprendizagem?

Por Carla Arena · 30 de setembro de 2022

Foi nossa segunda vez no Rock in Rio Academy #RIRacademy2022. Uma oportunidade para enntender a construção do maior festival de música do mundo, o backstage da semana em que legiões de fãs se reúnem, ávidos por uma experiência única, mágica.

O que fica? Algumas reflexões sobre a interseção entre a experiência e a aprendizagem na fala dos idealizadores do RIR.

Aprendizado 1: Comece pela CULTURA e por uma LINGUAGEM comum

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Parece óbvio, mas quando escutamos cada um dos idealizadores que falaram no Rock in Rio Academy, o alinhamento sobre os valores e a cultura do #RIR se traduziam em uma linguagem clara e coletivamente usada para definir as estratégias, conectar as pessoas que trabalham para tudo acontecer, e comunicar aos fãs.

É a partir daí que a experiência se constrói, Uma jornada sem atrito e personalizada, a criação das sensações (ambiência, degustações, sensações olfativas com territórios, saberes e sabores), inspirações e a busca constante por surpreender, trazer o inesperado. Do ponto de vista, dos frequentadores do Rock in Rio, há imperfeições, mas sim, atrás das cortinas são claras a cultura da experimentação, aprendizagem e do fazer que dá a liga aos 25 mil colaboradores que integram a equipe do festival.

A construção da experiência é a soma dos pequenos detalhes


A linguagem comum é repetida por todos: surpreender, trazer magia, o pensamento do detalhe, experimentação, #workhardplayhard, engajamento pelo afeto, entretenimento como movimento e abraçando causas, criatividade, integridade, ousar e pensar grande, coragem, todos na mesma direção, experiência UAU. E uma palavra que entrou para o vocabulário comum da equipe e que não estava lá em 2019, no último Academy antes da pandemia, foi ANTIFRAGILIDADE, conceito explorado pelo autor e pesquisador Nassim Taleb, muito propício ao que vivemos no momento, sendo a capacidade que temos a partir de uma crise gerar novas oportunidades. Uma outra estrutura semântica muito repetida foi INOVABILIDADE (inovação + sustentabilidade), entretenimento como causa, fazer um mundo melhor por meio da música e toda a sua cadeia produtiva.

E o que isso tem a ver com a educação? Ficamos aqui pensando, e se a gente trabalhasse mais em nossas salas de aulas, equipes e instituições educacionais, tanto do ensino básico, quanto em ambientes corporativos, para destilarmos nossa cultura por meio de valores bem definidos e uma linguagem comum? Quando que em nossas salas de aula falamos explicitamente dos valores que regem a turma? E não estou falando das regras da escola ou da instituição escritas em um livro ou PDF que muitos acessam e poucos leem. Estamos falando de valores e linguagem acordados e ancorados nas rotinas, no dia a dia. A partir daí, tudo começa a dar liga, pessoas se conectam, comunidades se formam, movimentos iniciam, transformações acontecem. Precisamos investir mais tempo e energia para cultivarmos pontos comum de interseção entre os grupos para que se conectem e tenham mais clareza porque estão ali e qual o sentido do que estão fazendo. É assim que hoje, o Rock in Rio, nas palavras de seus idealizadores, não é simplesmente o maior festival de música do planeta. É entretenimento como linguagem e movimento para tratar de coisas sérias, é experiência única.

A cultura fortalece a estratégia.

Aprendizado 2: Seja obsessivo em SUPREENDER

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A maior inspiração para a concepção do Rock in Rio é a Disney, uma fábrica de surpresas e felicidade em que o visitante é o centro das atenções. Durante o Academy, o que mais escutamos foi sobre a ousadia de criar novos espaços, novas experiências com parceiros de longa data e novos parceiros, sempre com o intuito de trazer uma experiência UAU, com atenção a cada detalhe, uma outra obsessão interna da equipe. E para isso, é preciso construir uma cultura, compartilhada entre todos, de experimentação, ousadia, aprendizagem e inovação. Por onde se começa? Por uma organização que aprende com cultura que abraça o risco como parte de sua essência.

Roberto Medina desenhou num papel uma folha que veio a se tornar uma mobilização pela Amazônia com essa folha se tangibilizando em forma de um palco flutuante no meio do Rio Negro. Imaginem as adversidades para se conceber e construir algo nessa dimensão? O Amazônia Live concretizou-se em milhares de hectares da floresta recuperados, 1 milhão de árvores doadas pelo Rock in Rio, entre outros desdobramentos.

O que movimentos como esse podem significar para a gente, educador? Entre o sonho e a ação, a ousadia, acolhimento ao risco, um olhar desafiador sobre o impossível e a busca incessante por talentos que realizam esse sonho são a essência entre o fazer e uma ideia que se esvai e dilui com o tempo como areia em nossas mãos. Essa obstinação em pensar grande e sonhar é o que mais precisamos resgatar em nossos jovens e em nós mesmos para acreditarmos que algo novo pode ser construído. Só há realização com esperança e otimismo, mesmo para o que parece inatingível. Como o lema do RIR, sonhar e fazer acontecer. E é nessa obstinação por concretizar sonhos que a mágica e a surpresa acontecem. Na sala de aula, nas corporações, não é fácil termos essa mentalidade. A rotina nos consome, automatizamos. O importante é ter sempre uma perspectiva, um olhar renovados para buscarmos novas formas de pensar e fazer. E só chegamos lá na busca e convocação de novos narradores, sejam internos, na própria sala de aula ou instituição, ou externos, em novas inspirações que alimentam pensar e fazer remixados, frescos.

Os modelos que nos trouxeram até aqui são insuficientes para o mundo em que vivemos

Aprendizado 3: Pense na DIVERSIDADE COGNITIVA como impulsionadora do crescimento

Naturalmente, em nossas salas de aula, nas instituições onde trabalhamos, há diversidade cognitiva, mas até que ponto estamos potencializando e ampliando nosso leque de talentos? Zé Ricardo, Diretor artístico do Rock in Rio e curador do palco Sunset e do Espaço favela, fez suas provocações certeiras, “por que algumas empresas inovam e outras não se sustentam?” E o segredo, que não é tão desconhecido assim ou que não deveria ser, é promovermos cada vez mais diversidade cognitiva em nossos contextos. E não estamos falando de diversidade em termos de gênero, raça, idade, localização. É bem mais do que isso.

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Ter diversidade cognitiva nos espaços sociais é incluir pessoas que têm estilos diferentes de resolução de problemas e trazem perspectivas únicas nas conversas, nos projetos. E para isso precisamos nos desapegar de conceitos antigos e nos desprover do medo de perdermos nosso lugar no mundo. São as vozes dissonantes que trazem mais criatividade, ousadia, e inovação. Não devemos pensar em unissonidade, e sim, multiplicidade. E para isso precisamos desbloquear a diversidade cognitiva e nos mantermos incansáveis na busca de talentos, o que significa:

  1. Encontrar o poder da diversidade dentro de você; você tem o poder de escolher, evoluir ou seguir atrofiado/atrofiada em conceitos do passado
  2. “Precisamos deixar que as pessoas sejam”; é ampliar a consciência a partir de valores compatíveis com o nosso tempo; é ter olhar empático para o outro.

A fórmula do impossível acontece quando tiramos as correntes, respeitando a existência do outro”

Os questionamentos que devemos fazer na educação em relação à diversidade cognitiva:

  • O quanto estamos potencializando os diversos talentos e amplficando múltiplas vozes?
  • Escutamos mais a nossa própria voz ou as diversas perspectivas de nossos alunos?
  • Corroboramos aquilo que já conhecemos ou incentivamos novos formas de pensar e de fazer?
  • Damos espaço para pensamentos e expressões que são contrárias às nossas? Ou buscamos impor uma determinada forma de pensar e agir que são alinhadas à nossa perspectiva, apenas?

Aprendizado 4: Foque na construção de CONTEÚDOS ORIGINAIS

Rock Street Mediterrânea, a experiência de se transportar para um espaço de algum lugar do mundo fora do Rock in Rio, mas lá na cidade do rock; The Town, o Rock in Rio em São Paulo; Uirapuru, um musical que não deixa nada a dever à Broadway com sua produção grandiosa e impecável com 25 minutos em que a plateia, sem piscar, fica grudada no palco; Nave, instalação imersiva, multimídia e sensorial. Projetos únicos com conteúdos originais desenhados e executados pela equipe do Rock in Rio como forma de criar um campo de imaginação e conexão afetiva com os fãs. É na interação e no engajamento que o RIR constrói uma comunidade de fãs com uma experiência única e personalizada ampliada pelas tecnologias.

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Como diz Medina, as pessoas têm que entrar em uma história, em uma experiência UAU. Não é o palco que surpreende. A plateia é mais importante que o show. E foi assim que pela primeira vez na história de um show de rock, no RIR, a plateia foi totalmente iluminada. Antes, isso não era feito. A luz ia apenas para o palco. E para chegar nessa experiência UAU, é preciso dar mais ao público, com conteúdo original e com a alma cheia, sempre na perseguição ao detalhes.

O mundo precisa de emoção

Não precisamos nem dizer o que isso significa para a educação, tanto nas escola, como nas corporações. É autoevidente, autoexplicativo, e chega até ser repetitivo. O centro são as relações, as conexões, as pessoas, nossa platéia, os alunos, e não a frente da sala, o quadro, o especialista, o professor. E para valorizarmos nossa plateia, temos que lapidar conteúdos de valor, originais, não tão óbvios. Temos que emocionar e construir novos repertórios com nossos alunos, com a nossa equipe.

O que fica

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Para criar uma cultura de entretenimento como causa, há de se ter um olhar para o social de forma diferente. É encarar o festival como movimento que se integra como plataforma de comunicação, lab de experiências e circularidade na cadeia produtiva. O segredo? É entender o que é importante para o outro, para os usuários. Só assim se cria uma comunidade de milhares fãs que orbitam o RIR muito além da semana do Festival e reverberam a experiência e os conteúdos muito antes e depois da magia da cidade do Rock acontecer.

Com mais de 700.000, o sistema não poderia deixar de ser imperfeito e, como boas críticas que somos aqui no Amplifica Experiências de Aprendizagem e no Nauta, poderíamos apontar aqui vários pontos de atenção, mas como diz Roberta Medina, o que fazem no RIR não é obrigação, é convicção em uma fórmula com intencionalidade e obstinação pelos detalhes:

ACREDITAR>>CORRER ATRÁS>>MUDAR

“Quem tem de propósito, faz tudo de propósito”

E esse mundo de surpresas, afeto, pertencimento e respeito às individualidades tem muito a nos ensinar sobre o que é realmente encantar as pessoas e fazer com que elas queiram fazer parte, mesmo que seja com uma multidão de pessoas na chuva ou no sol, nas filas ou nos gramados. Entender como se constrói um festival que vai muito além do festival pode nos dar várias novas ideias para o que podemos reinventar em nossos sistemas educacionais e corporativos. E tudo começa pela obstinação, o sonhar e a perseguição pelos detalhes, pelo invisível.

conheça o autor

Carla Arena

"Ter idealizado o Amplifica e vê-lo impactar a vida de educadores e líderes educacionais é o que nos impulsiona a levantar todas as manhãs sempre buscando soluções inovadoras e significativas para ajudarmos a educação no país a ser cada vez mais conectada ao mundo, aos alunos e educadores. Amplificar é transformar desafios e soluções."

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